segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Sete


A vida pode ser confundida com uma pergunta. Por mais que busquemos respostas, perguntar é o que mais fazemos. O que vou ser quando crescer? Quem é minha alma gêmea? Quem sou? Questionar faz parte do processo doce-doloroso de viver. Julgava-me questionador, esperto. Por vezes iludia-me a ideia de ser discípulo de Sócrates, e fazer da vida um “diálogo” do mundo comigo mesmo em que eu seria o constrangedor universal e assim aprenderia ensinando aqueles que julgava como eu, serem ignorantes. Como disse, iludia-me. A real noção de não saber nada não acorda com a realidade de que outros sabem. Ela sabia. Patrícia não só sabia como transpirava saber. Entre a realidade do conhecimento e a ausência do mesmo ela se mostrava segura em seus “silogismos”, levava qualquer um a reconhecer-se incapaz, em partir a outro plano. Assim, de professor tornei-me aluno, assisti a menina dos meus sonhos colocar-me a par da realidade da única forma que se pode chegar a ela sem esquece-la, a “forma em dor”. Sofri odiando mais, amando mais. Calculei errando menos, senti fingindo não sentir. De professor a aluno Patrícia levou-me a qualidade jamais imaginada a pessoas passionais, sentimentais e carinhosas. Gradativamente ganhei o que de impassibilidade aprendendo a lidar com o sentimento que me dominava. Patrícia e suas armas não me feriam a ponto de demonstrar a tal dependência característica dos enamorados. De aluno a professor, de cópia imperfeita à imagem fidedigna captei o que precisava minha estrela negra. Precisava de si mesma, era “forma pura” primeiro motor , imóvel, uniforme. Então, como “Deus” em imagem e semelhança fiz-me Deus em “ato puro”. Não gritei, não ouvi, não falei. Imutável e despreocupado com o mundo o mesmo passou a adorar-me afim de apanhar em mim aquilo que busca e só encontra quando possui o verdadeiro conhecimento. Buscava perfeição. O amor. Na condição de “Eros” restou-me esperar o inevitável. Patrícia. Correndo em direção ao que julguei não possuir, estando em suas mãos, não relutei. Vendo-a lutar como lutei, buscando a perfeição que busquei. Longe de ser Afrodite passou a traduzir em mim o que antes traduzia em si mesma. E, diante daquele antes imperfeito, fez espelho, quis morada. Era madrugada e o telefone não parou de tocar. Era cedo, tarde demais para Patrícia. Manhã para Narciso. Solitária dizia a si mesma repetindo aos soluços, a seu único companheiro na madrugada um triste-rasgado grito de boa noite. O telefone só chamava.

Helder Santos

01-09-2009

01:01 am



Atividade para os primeiros anos:
Tentar encontrar a teoria de Aristóteles, Sócrates e Platão no texto, em que passagens dele(do texto) essa teoria está presente explicando-a. Sucesso! Vale um ponto extra.

sábado, 29 de agosto de 2009

A partir de pequenas coisas.


O homem aprende mesmo fazendo muito que nunca é necessário, que fazendo pouco outrora pode bastar. Descobre a importância das grandes coisas ao engrandecer as pequenas. Percebe solitário o prazer de estar com quem ama, o doce sabor de ser amado. Tem o “insigth” de que sozinho nunca se é bastante e, ao caminhar alado salta ao imaginário, não está parado.

Capta pelos sentidos que se ama com reciprocidade amando sozinho, que, por vezes se engana com facilidade aos olhos de quem julga ser seu caminho. Converge racional ser o justo par de si mesmo na multidão, ser o público preciso das situações que só você conhece.

Com os seus apanha a palavra exata nos momentos indecisos, nos momentos de paixão desbrava o arco retorcido dos passos sem razão, constrói universos paralelos a sala de estar, abraça o mundo á mesa de jantar.

Juntos realizam que só podem ser quando de mãos dadas com o tempo, passionais, centrados ou sonolentos transpiram o que outros chamam amor sem conjugá-lo no tempo.


A Samara, meu tudo =*



Helder Santos

28-08-2009

9:32 pm



quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Amor ao amanhecer.

Raios de sol anunciaram essa manhã,
Seus olhos brilhando ao amanhecer altivo dos meus olhos cansados,
Sutis olhos desabando bonito em seu translado.

O que serei amanhã?
A certeza viva em ser sua manhã
Cristalizar o presente, conhecer seu passado...
Amigo, amado...

Colher no raro jardim, a flor ao seu lado,
Ser hoje chão alado
Sutilizar no futuro, dar força mesmo cansado.

Plantar a semente diária a única flor,
No único passo,
Catalisar seus traços,
Magno amor, eterno laço.

Helder Santos
10:47 pm

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Seis

- E agora que seus olhos não alcançam os meus e a brisa do amor não ascendeu nenhuma chama? O que fazer se o medo dominou a dor e o coração perdeu-se em drama? A lágrima caiu, sucumbindo ao beijo. Velou-se o amor matando o desejo. Esvaiu-se, flor a espinho, repleto, sozinho. Sepultou-se amor, murchou a flor.

Emudeci a mesma intensidade do grito, me pus a pensar. Pensei numa época em que pessoas boas eram felizes, que o mundo era menos pernicioso, que amar era uma sinfonia. Parecia ouvir música acalentando o espírito, uma voz doce cuidando de mim, me senti vivo, entregue ao prazer de sentir. Como em contatos passageiros o que de real existia espancou-me com a realidade na presença de uma pessoal realmente idealizada, existente em meus sonhos, dissidente em minha vida. Angustiada como de praxe fez-me o mais débil dos homens. Se houvesse em mim a pena de Lispector¹, falaria sobre o menor homem do mundo vivendo na menor cidade do menor estado do mundo. Mas, meu coração era um país desabitado, uma canção cheia de melodia esperando sua voz. Da luz fez-se sobra, da voz doce-esperada fez-se grito, eis o mito...

- Acorda, rompe a corda que nos une, laça a mão que te enlaça, beija a boca que ama. Nega o sorriso que te pune, acende a chama que ilumina, apaga a faísca que te queima, branda o desejo que te mina.

O que pressinto nem sempre condiz com o que sinto e mesmo que o que sinta pressinta o fim, sinto no fim o gosto do recomeço. O medo forçando apreço. Há água na lama, amor no ódio, pavor na trama...do devaneio à tenra lucidez de saber quem sou, o eureca viril de ser o menor homem do mundo. A clara noção de ser o maior homem do mundo, o mais amável, intenso, entregue, o gigante desse mundo cheio de maiores homens escondidos no maior estado do mundo, o estado indiferente em ser homem nesse mundo. Homem! Homem como homem desse mundo? Não! Homem como homem que ama o mundo, as pessoas, a menor mulher do mundo, a que se agiganta diante do menor homem do mundo se perdendo nos maiores homens do mundo, homens fingindo amar mulheres nesse mundo, impassivelmente formados na menor cidade do mundo, na maior prisão do mundo. O telefone ficou mudo, Patrícia acordou, voltei a dormir. O telefone não parou de tocar, não atendi.

Helder Santos

6:12 pm

21-08-2009

¹ http://claricelispector.blogspot.com/2008/04/menor-mulher-do-mundo.html

Soneto do amor infinito

Te amo como o mar às ondas,
Como a força dos ventos ama a tempestade.
Do calor amando o fogo surgem chamas,
A espera pela manhã, ama à tarde.

Amo doce, sutil, sem alarde.
O grito silencioso da noite,
A voz estridente da mocidade.
Amo a faca que corta, a dor do açoite.

Amo calado e temeroso,
Forte, presente, audacioso.
Amo tanto, e de tanto amar “desamo”.

Amo-te e tudo fala quando respiras,
Tudo cala quando somes.
Amor, mesmo brisa, amor... me ame.

Helder Santos

04:35 pm
21-08-2009

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Cinco


Palavras são palavras, não sei o que Patrícia quis dizer quando afirmou sermos indivisíveis, eternos. Falou a todos pulmões de um destino reservado para nós; sempre que falava algo de efeito eu acreditava que meu mundo era realmente bom, que minhas qualidades de inteligente, simpático e astuto eram de fato reais. Tais qualidades desapareciam quando, de fato Patrícia parecia falar mais sério, “jogando Deus na minha cara,” fazendo-me idiota. Era como se quisesse, por alguma razão, provar que somos imperfeitos, que por mais qualidades que tenhamos colocando-nos ao lado de deuses, temos defeitos que nos fazem patéticos. Personificou-me paradoxalmente na expressão tosca de ser ódio e amor. Até pensei ser comum, mulheres e homens amam odiando, odeiam amando. Mais um engano, com Patrícia, máximas de relacionamento não passavam de brincadeira de criança, então brincava sem me divertir, acho que era o brinquedo, será?

Era uma manhã de agosto, não havia nada Augusto em mim, sentindo uma solidão aterradora o telefone ao lado da cama era a única ponte entre a total solidão e a voz acalmando o espírito, escapismo: tudo que fiz na vida, que fiz da vida foi fugir? Perguntei coisas estranhas a mim mesmo passando a acreditar ser dois, Patrícia, mesmo distante me faz acreditar não ser UM, indivisível, imutável, ser dois, frágil, indefeso, influenciado.

Fugindo como de praxe, ligo o rádio buscando companhia e até ele joga verdades incontestáveis na minha cara:“É só saudade mas dói tanto quanto amor, é só seu rosto que aparece no televisor”. No salto entre desejo e medo, decido não fugir, apanho o telefone que a esse momento sorria pra mim, aperto a tecla “rediscagem” sem necessidade, há apenas um número em meu telefone. OCUPADOO, esse foi o grito do meu coração, mais uma , duas , cinco mil vezes. Enquanto as mãos suavam e apertavam as teclas, o soluço mesclado de lágrima e desespero tomava toda a casa, ninguém ouvia mais que eu, sentia mais que eu, sofria mais que eu. Apaguei...o telefone tocou, atendi estabanado, era Patrícia dizendo oi.

Helder Santos

5:13 pm

20-08-2009

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Saudade dos beijos que não dei na infância

Ai você me beija e o que acredito cai por terra,
Sobe aos céus , para em seus olhos e
O que quero emerge as suas esferas

Resolutos em cor,
Falando desejos, deleites
De amor, paisagens em flor,
Traços e enfeites.

Silhueta esguia em paz.
Mãos tocando-as, ardor
Nos lábios se faz

Aproximando-nos, distancio-me do que atraí.
Reinvento o sentido, o momento visto,
O calor descrito acalma o sentimento,
Aquece, se vai.

Helder Santos
11:41 pm
18-09-2009

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A cor do fim

Quis um amor que sorrisse com seus olhos.
Sua dor, uma flor, seu calor.
Cantar ao seu ouvido,
Andar ao seu lado, ser seu amigo.

Quis uma flor, uma parte de você em mim
Anunciando cor, adiando o fim.
Plantei sonhos, colhi figos,
Vivi sua poesia sofrendo seus castigos,

Nada adiantou, fui punido e
Mesmo caído, fiz do chão seu abrigo.
Do peito dolorido, afago,
Nas lágrimas viu-se lago

A navegar afoito, a brincar contigo
E do sonho amargo mantive vivo
O novo sabor de ser antigo,
A doçura de ser seu amor altivo.

Helder Santos
11:09 pm
13-08-09

Completamente blue

Tudo azul
Completamente blue
Vou sorrindo, vou vivendo
Logo mais vou no cinema
No escuro eu choro
E adoro a cena
Sou feliz em Ipanema
Encho a cara no Leblon
Tento ver na tua cara linda
O lado bom o lado bom o lado bom

Como é triste a tua beleza
Que é beleza em mim também
Vem do teu sol que é noturno
Não machuca e nem faz bem
Você chega e sai e some
E eu te amo assim tão só
Tão-somente o teu segredo
E mais uns cem, mais uns cem
Tudo azul, tudo azul, tudo azul
Completamente blue
Tudo azul tudo azul

Como é estranha a natureza
Morta dos que não tem dor
Como é estéril a certeza
De quem vive sem amor, sem amor
Mas tudo azul, tudo azul, tudo azul
Completamente blue
Tudo azul

Cazuza

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Ana


Aqui, desmedido , espero sua personalidade
O que é comigo, amigos, como adentrar sua cidade?
Em desejo, contínuo amante, afã de sua verdade.

E o peito grita à boca que abre.
As mãos soam à palavra que sobe
Janela em janela o silêncio monossilábico quebrado em flor parnasiana,
Tem desejos, cor branca, terminação Ana.

Inusitada aponta a linha que nos separa
No mapa. Ao meu lado risca o ponto entre nós
Aproximando-nos ao beijo o abraço que nos ata.
Ali, falante-movimento em sua casa


E o medo para no sorriso que acalenta
O toque fala à mão que nos sustenta
Beijando a face, aproximando os olhos a flor desabrocha
Em cor sem dor romântica seu lábio me toca.

Helder Santos
11:34 am

24-07-2009

Os incríveis sonhos do homem que não dormia (traçando planos )

Em seu sorriso, a esperança perdida
Do que não aconteceu
Num espaço vago entre você eu.

Às vezes imagino que tudo pode mudar,
Que sonhos podem falar
E que há um lugar bom esperando por nós.
As vezes sonho

E sonhando mesmo recrio universos novos
Entre você e eu, espaços
Preenchidos unido-nos.
Mais que esperança, uma linha, um traço.

Palavras gritando mais alto que despedida,
Uma canção falando de amor, um laço.
Silêncio brotando da terra, vida.


Helder Santos
11:24 am
04-08-209