A vida pode ser confundida com uma pergunta. Por mais que busquemos respostas, perguntar é o que mais fazemos. O que vou ser quando crescer? Quem é minha alma gêmea? Quem sou? Questionar faz parte do processo doce-doloroso de viver. Julgava-me questionador, esperto. Por vezes iludia-me a ideia de ser discípulo de Sócrates, e fazer da vida um “diálogo” do mundo comigo mesmo em que eu seria o constrangedor universal e assim aprenderia ensinando aqueles que julgava como eu, serem ignorantes. Como disse, iludia-me. A real noção de não saber nada não acorda com a realidade de que outros sabem. Ela sabia. Patrícia não só sabia como transpirava saber. Entre a realidade do conhecimento e a ausência do mesmo ela se mostrava segura em seus “silogismos”, levava qualquer um a reconhecer-se incapaz, em partir a outro plano. Assim, de professor tornei-me aluno, assisti a menina dos meus sonhos colocar-me a par da realidade da única forma que se pode chegar a ela sem esquece-la, a “forma em dor”. Sofri odiando mais, amando mais. Calculei errando menos, senti fingindo não sentir. De professor a aluno Patrícia levou-me a qualidade jamais imaginada a pessoas passionais, sentimentais e carinhosas. Gradativamente ganhei o que de impassibilidade aprendendo a lidar com o sentimento que me dominava. Patrícia e suas armas não me feriam a ponto de demonstrar a tal dependência característica dos enamorados. De aluno a professor, de cópia imperfeita à imagem fidedigna captei o que precisava minha estrela negra. Precisava de si mesma, era “forma pura” primeiro motor , imóvel, uniforme. Então, como “Deus” em imagem e semelhança fiz-me Deus em “ato puro”. Não gritei, não ouvi, não falei. Imutável e despreocupado com o mundo o mesmo passou a adorar-me afim de apanhar em mim aquilo que busca e só encontra quando possui o verdadeiro conhecimento. Buscava perfeição. O amor. Na condição de “Eros” restou-me esperar o inevitável. Patrícia. Correndo em direção ao que julguei não possuir, estando em suas mãos, não relutei. Vendo-a lutar como lutei, buscando a perfeição que busquei. Longe de ser Afrodite passou a traduzir em mim o que antes traduzia em si mesma. E, diante daquele antes imperfeito, fez espelho, quis morada. Era madrugada e o telefone não parou de tocar. Era cedo, tarde demais para Patrícia. Manhã para Narciso. Solitária dizia a si mesma repetindo aos soluços, a seu único companheiro na madrugada um triste-rasgado grito de boa noite. O telefone só chamava.
Helder Santos
01-09-2009
01:01 am
Atividade para os primeiros anos:
Tentar encontrar a teoria de Aristóteles, Sócrates e Platão no texto, em que passagens dele(do texto) essa teoria está presente explicando-a. Sucesso! Vale um ponto extra.