quinta-feira, 28 de maio de 2009

Dezessete primaveras, vinte e oito verões.


Quando digo te amo não é boca que fala ou ouvidos que ouvem o que fala o coração.

Quando calo, amor, não peça minha voz por falta de calor; frieza não há quando a voz que fala é do coração, quando beijos dados inspiram canções nos beijos nunca dados, no olhar que não vem.

Não grite amor, sei ouvir paciente quando poesia fala dor, quando poesia, fala amor. Amor, não lute, o inimigo imaginário não está desse lado da consciência, amor...

Quando for dor, amor, sinta, não existe amor sem dor. Lute, descubra comigo a verdadeira dor de amar. Amor , olhe, estamos longe da estrada que nos traz. Amor , quando dizes não me amar, onde estás? Amor, quando chamas, onde me queres?

Quando partes, onde vais leva-me contigo? Nos teus beijos, sou teu amigo? Amor, não tema, de amor raro não entendes, amor grande nos prende ao grande amor que se rende pedindo sua mão, amando onipresente.


Helder Santos

27-05-2009



quarta-feira, 27 de maio de 2009

Vinte e oito invernos

O grito do coração fala tal qual o grito de quem ama em silêncio. O coração de quem ama em silêncio quando alto grita canta um monólogo e quando baixinho fala é dissonante. Já o coração de quem cala, quando esquenta , esfria, quando esfria, esquenta. Quando fala. Cala. Outro inverno....cala?

terça-feira, 26 de maio de 2009

Dezesseis primaveras

O carinho de um sorriso tal qual o sorriso de um beijo produz sons que só a alma de quem sente pode saber.


Helder Santos
Março de 2009

domingo, 10 de maio de 2009

Redesenhada fantasia brotando.

Doce crueldade ver em seus olhos o que sonho aos meus.
Mais que reflexo da felicidade a própria felicidade em seus olhos avistando os meus
Parados , mudos, atentos olhos inebriado-se a licor dos seus

Sutis, sedentos olhos buscando a luz púrpura dos lábios seus.
Sedentos, molhados lábios beijando os meus
Estáticos, fitados olhos mirando os seus
Atentos a soluçante boca beijando a sua

Parada, a sedenta em face de cândida atenção depreendida a seus cabelos
Enquanto soluçante grita o canto rasgado de desejo
Para pra contemplar a delícia em cheiro.

Viril afável de medo
O menino servil-enredo.
Vê as mãos guardadas em segredo
As carícias doces desses beijos.


Helder Santos

05:55 am

10-05-2009

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Sons : desmidido silêncio

Havia nas tardes, súbito desmedido silencio; nas manhãs, barulho, gritos aterradores antecedendo a calma voracidade na tarde parindo a noite. O clima ora pálido, ora lascivo dos participantes rostos desse ritual denuncia a relação de poder entre claro e escuro.

Numa das frechas espalhadas pela casa o quarto deles assistia impotente ao sol alertando-os à confusão iniciada pelo dia. Minuciosamente, frecha à frecha raios despontavam o grito aterrador ao acordar, ainda inchados os rostos, remelados olhos, a boca seca, o cansaço. Conscientes do que viria. Como paliativo ascendem um cigarro, primeiro som audível ecoando ao desesperador, visível tumultuoso som proferido nas tardes. Concomitantemente ao som inicial ascende-se uma das bocas do fogão. Lentamente, a mulher liga a torneira, do armário abaixo da pia apanha uma chaleira, põe água, leva até o fogão à chaleira já com pó de café enquanto estimula potencialmente o tamanho da chama. Antecedendo a combustão ao ferver da água o som do isqueiro vindo do banheiro anuncia um novo barulho, posteriormente ele liga o chuveiro elétrico. A seqüência de sons tão normais ao cotidiano da casa torna-o surdo, nem notar o indefinido som sendo produzido.

De fora, o ruído dos carros denunciava estarem na cidade “grande”.Por dentro, a casa assemelhava-se a antiga casa da senhora em suas lembranças não sentidas pelo esposo já adepto a metrópole. Enquanto seu marido tomava banho ela recordava a infância: fogão a lenha, café a ser moído, o cigarro menos barulhento de sua mãe. Lembranças matinais. De onde ela vinha o cigarro não industrializado é chamado de “boró¹”. De repente, não mais que de repente suas lembranças são acordadas ou quem sabe adormecidas pelo som da TV ao anunciar futebol e algum desastre natural incomum àquela parte do mundo. Os jornalistas a fazer o papel de animadores no trato do futebol, quanto ao equilíbrio da natureza, esse não dependia unicamente da poluição barulhenta dos carros em sistema de rodízio ou dos cigarros acesos. Como o dia dando lugar à noite o presente possuía o passado em diferentes nortes. Um homem, uma mulher, um casal? Todavia, o curso de sua manhã segue silencioso, ela põe a mesa enquanto calmamente espera seu banho. Essa espera, igual a outras, diferente do maior desejo, a consumia diariamente. Nada a separava de suas lembranças. O passado de tanto buscar vida na ausência do presente remetia ao tempo em que às casas nem precisavam ser grandes. Nos lares havia algo maior que paredes mesmo que houvessem frechas e por mais que o sol que entrasse fosse o mesmo, os raios eram outros, pareciam não nutrir... Ao menos uma das partes do dia tinha plena consciência dos atos passados, à tarde tudo mudaria, não haveria a parte lembrança do passado, não saberíamos metade do futuro. O esposo demorava fazendo-a esperar na certeza de estar tudo pronto quando fosse aberta à porta sanfonada. O sol queima ardentemente fora da casa, dentro, o clima é aprazível graças ao barulhento condicionador de ar. Como rotineiramente a porta é aberta, suave e devagar da forma que fora fechada, dela o homem lento e carinhoso chama a mulher denotando haver terminado e estar livre o banheiro. Assim, a aparente pintura de um dia típico enunciava a mesma dança ao cantar as mesmas músicas enquanto ela abria a porta sanfonada. Não menos lenta que o marido, um pouco mais afoita adentra a porta que o companheiro acabara de sair. Ao despir-se é tomada por novas lembranças. O lugar pequeno e bem dividido torna-se amplo ao remeter a paisagem de sua antiga casa, “locus amoenus²”. Janelas que dão para o grande jardim, cheiro de vida na imensidão do céu, chuva no inverno, colheita no verão, paz. Animais correndo de um lado para outro ascendiam os olhos da menina. Mais e mais imagens se formam até que fora dessa realidade o som produzido pelo microondas ligado pelo cônjuge a traz de volta ao mundo palpável a ele. A senhora passeando irreal ao mundo que desconhece quando abandona a lembrança de menina. Segue-se o som da água a descer pelo ralo, a invisibilidade da tarde não mais lembrada por ela estirada a murmurar ao ralo a última palavra a ecoar na direção menos desejada, os canos. Ela disse saudade.

Helder Santos

06-05-2009

01-22 pm




¹ Tipo de cigarro artesanal enrolado com fumo de rolo comum no interior nordestino.
²Expressão latina que designa a paisagem ideal, sempre presente na poesia amorosa em geral e, com maior incidência, na poesia bucólica.