Anos passaram fazendo-nos crer num recomeço. Particularmente acreditei nisso. Patrícia voltaria, seria o que ansiei. Dia a pós dia persegui tal desejo. Maldita crença a pungir, despedaçar, cortar, mutilar. Não apenas um, ou meu fiel sofredor companheiro e eu. Sofríamos, meu coração, elas e eu. Até quando estive só, masoquistamente feria-me. Meticulosamente maculava resquícios de sobriedade resistentes, sofríveis
Quão inútil à luta dos que perdem o propósito? Deve ser! Não menor que a luta dos que nem souberam um dia algum propósito. Não menor que a luta dos que parasitaram existência a dentro. Essa crença me fazia sorrir com o canto da boca. Nada de mágoa, ressentimento ou angústia. Você morreu! Morte dando lugar à vida em outro coração. Fazendo do medo antes combatido, velho amigo nos antídotos contra males e você. Estamos bem, sua dor e eu. O que és ao telefone e pessoalmente dissimula; o que fui sem negar e prefiro deixar no passado. Morremos! Assassina! Matou-nos a sutis golpes, lenta, meticulosamente. Nada que disser supera os fatos. Estamos mortos e a culpa é toda sua.
Por mais certeza que exista nas argumentações, fatos levarão você à incredulidade em suas ações. Voltas atrás. Estamos mortos , não entende? Morremos abraçados a cruz invisível , a mesma que supostamente uniu-nos um dia. Acabou! Recolha sua mochila repleta de argumentações lógicas sobre o sentido da vida, encolhe os ombros. Tantos encolheram, tantos encolherão, não está sozinha nessa. Morremos, acabou! De grito em grito senti que toda cidade conseguia me ouvir: “Acabou! Morreu! Morremos!”
Sorri ao justo destino de ser o único a não decidir a própria vida, encolhi os ombros e gritei: “Morri!” Dessa vez ninguém ouvia, não queriam que eu morresse assim tão rápido. Morri e estava só. Patrícia igualmente morte e igualmente só nada falou. Frios e calmos na certeza de termos morrido nem mexíamos; até que alguém contemplou o céu azul-poluído nos sorrisos falsos bem representados e jogou uma flor. Felicite você mesmo, é o dia mais feliz de sua vida. Você morreu.
Helder Santos
31-10-2009
3:15 pm