Eu que penso ter o mundo e esbarro no muro da casa ao lado.
Eu que acredito sem acreditar, continuo crendo num não sei o
que de ontem dum amanhã sempre incerto.
Eu que te olho e não vejo, tenho sem ter e desejo
Não podendo ter, pensar, crer ou ver:
Não passo daquele que sonha o sonho de ontem irrealizável em
seus impedimentos,
Não sendo mais que a plateia silenciosa de um espetáculo que
nunca protagonizarei,
O show sem instrumentos que ninguém ouvirá, o dia ensolarado
em inverno torrencial.
Eu que tenho cansado sem sair de casa pensando o dia que
sairei,
Não faço nada a não ser imaginar coisas que não vivi a
espera do que não viverei...
Lembranças das tardes que não terei por fazer das tardes que
tenho um programa sem espectadores,
Uma vida sem vida numa vida cheia de amor sem amores,
Um sonho intercalado pelo acordar aterrador de um relógio
sempre atrasado:
Triiiiiiimmmmm
Triiiiiiimmmmm
Triiiiiiimmmmm
Corro de um lado para o outro, do tudo ao nada, do rock ao
fado,
Admiro a beleza da vida mas não acho nada
Do nada sempre igual, calado...
À rua da minha casa...
Tantas casas contentes, iluminadas e solícitas.
Eu em minha casa, parado, atônito, cansado !
Eu e a campainha da casa ao lado, parada.
O sol se põe a porta da rua.
Ruas que não transito por serem conhecidamente transitáveis
E eu à porta da mesma casa: a sua!
Durmo...sonho sonhos que nenhum Freud decifraria por serem
mais que malucos, insonháveis:
Vejo sem ver minha casa, grito por gente minha num sonho
insone em nomes.
Signos, segredos dispersos em eternos desejos saudosistas
fazendo de mim o que sou.
Jardim, jasmim, junquilho.
Todas expiro, aspiro, estou.
Triiiiiiimmmmm
Triiiiiiimmmmm
Triiiiiiimmmmm
Atordoado, durmo para mais um dia à espera do sonho sabendo
pra onde vou:
À casa que habito, a casa do meu amor.
01:11 am
Helder Santos Pereira
24-12-2013