sábado, 11 de dezembro de 2010

Uma infância feliz II

Sonhar faz parte do universo infantil, ser criança é criar universos paralelos e vivê-los intensamente. Dos sonhos infantis devemos guardar algo positivo, deveríamos...

Gordinhos são felizes. Há quem diga que sempre tiramos uma lição positiva dos adjetivos que recebemos ao longo da infância: bolo de b., butijão, baleia, rolha de navio, MUNDO etc.

-Ser gordinho é algo sublime no universo estético atual, afinal, gordos são carismáticos, engraçados, carinhosos, bobos, nada é perfeito, não é ?

- São tantos elogios, a maioria emociona, sabia? Porém, gordinhos são felizes.

Como repetidas vezes tomando o mesmo café da manhã a espera almoço, passando pelo delicioso lanche, esperei por minha melhor amiga. Percebem como gordo é sensível, enquanto seus amiguinhos têm melhores amigos, o gordo, desde cedo,escolhe ficar ao lado das garotas. - Pronto, ela chegou - . Como habitualmente, suei frio ao sentir os passos apressados e desajeitados de Clarinha, linda e morena. - Lembrava a moça da TV cujo nome não sabia o nome, sabia que gostava de morder e era vampira.- Com seus negros cabelos esvoaçastes, Clarinha desatava a correr pela casa me fazendo, em seu encalço, fingir-me exímio corredor. Sempre atrás dela. - Mal sabia que essa posição traria, no futuro, outros prazeres -. Clarinha corria muito, suas perninhas eram ágeis, velozes como os gatos fugindo da água que mais tarde jogaríamos. É, Clarinha, após cansar - isso demorava muito, muito mesmo - gostava de jogar água nos gatos da vizinhança. Dizia ela: gatos precisam ser molhados para se sentirem presos . Molhar gatinhos seria comum ao longo de sua vida. Gatos são gatos. Porque meus amiguinhos me chamavam de baleia? Descobri que ser gordinho pode ser tenso. Nessas horas tinha vontade de ser gato...

- Clarinha, você tem cada filosofia...

- O que é filosofia?

- Sei lá, deve ser alguma coisa que a gente pensa. Meu pai diz que minha filosofia é comer, como penso muito em comida, filosofia deve ser isso, algo que pensamos muito.

- ah, entendi.

O que pouco entendia estava relacionado ao que sentir quando Clarinha se aproximava. Era estranho, as outras amiguinhas também eram bonitas, – chatinhas é verdade, mas, bonitas – ela era especial. Tinha um jeito de olhar, parecia que só ela me via com olhos meigos, olhos que me faziam sonhar próximos encontros. Mainha me olhava bonitinho, mas, mãe é mãe, enfim, duas corajosas. Encontrava Clarinha todos os dias. Mesmo assim, Toda a noite, religiosamente, Clarinha aparecia em meus sonhos. Outro dia acordei muito ofegante, não esqueço desse sonho, estávamos no quarto, ela encostava a porta, me beijava e saía correndo. Não vêem, até em sonhos ela me surpreendia. Clarinha e seu olhar doce me distanciando da torta na geladeira ao me aproximar do mais delicioso dos sabores, o do primeiro amor.

(continua...)

11-12-10

01:13 pm

Helder santos

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Deixa o mundo mudo.

Acordar com a sensação de que o mundo caiu e nada é como ontem. Luzes coloridas na rua preto e branco perto do colégio, pessoas indo e vindo. Essa contemplação finda em meu ser a parte em mim levada ontem. Hoje,como as pessoas que passam, não sei quem sou, o que são? Nenhum movimento além do seu deixaria o mundo mudo. Emudecemos no tilintar de um celular descarregado enquanto nossas baterias esvaziavam em sinfonias tristes. Toques, gestos, palavras mudas em silêncio com você.
Na triste rua ao lado do colégio uma menina escreve o que escreveria uma menina triste. Palavras de amor ou um libelo à volta? Algo se foi com cores e sons. A menina não conseguia sentir, escrevia , restava-lhe escrever sob estrelas, sobre cinzas estrelas artificiais no céu do seu desconhecido ser denunciando o brilho furtado mais caro amor, numa pseudo-promessa de futuro sem envolver palavras de amor sussurradas noite passada hoje silenciadas.
Dormir carregando consigo o estranho peso de seis meses escritos em linhas coloridas acordadas em preto e branco. Não dormir e sonhar com linhas coloridas e a volta da luz a carregar celulares mudos. Distantes mundos e nós, mudos como à música silenciosa do tilintar nos aparelhos mudos ao lado do travesseiro sonoro da minha insônia confessando gritante minha tristeza muda.
Alegre, a rua ao lado sequer percebe a existência da menina muda encostada na parede encrostada do sentimento mudo nas lindas palavras lidas ontem, emudecidas hoje. A menina triste escreve sobre aventuras de um heroi mudo e triste que jura saber canções de amor. Triste, a menina alegre e triste conta como cantará uma nova canção dizendo ouça no volume máximo.

*dedicado a Gabriela Araújo.
fonte:
http://fortaleceaimeucoracao.blogspot.com/


09:34 pm
07-12-10
Helder santos