Comece por pensar como seria se você
escrevesse o nome de todas as pessoas que você ama caracterizado seu sentimento
por elas. Poderia subitamente descobrir não amar várias pessoas amando o que
precisa nelas, atenção, respeito.
Ainda assim, continuas e cataloga
tudo que sente. Dores, prazeres, vivências. Cada sentimento num edital onde
regras internas não precisam de racionalidade e a presença desse amor se basta.
Nenhuma medida parece o conter. Ee dói mais que as belas sensações, se faz
menos que fazes, se não existe reciprocidade. Do que importa se é amor e o nome
escrevesse em ti como o sentimento que nutres sem racionalizar?
Mas, pra que pensar em retorno? As
pessoas representam mais que sua volta e a triunfal sensação que de és amado.
Escrevê-las em sua mente é mais que diferenciar maiúsculas e minúsculas , é
transportar suas letras para um lugar maior que grafias ou palavras, é doar-se.
Isso pode doer escondendo a pontinha de felicidade que multiplica sua alegria
quando ela sorri e confirma minimamente seu sorriso.Muito embora escrevas em sua
cabeça uma história bonita, podes escrever para alguém que te dedica outras linhas.
E aí, o que pensar se seu cérebro é refém do seu coração? Não há controle
remoto no amor. Sem ter pra quem escrever podes escrever pra qualquer um. Pode
ser bem mais doloroso que dedicar linhas a quem amas se você sabe que
essas são linhas bem escritas.
Ias bem, muito mimo, lindos livros,
idas, lidas aventuras. Aí, inventas amar amando o mundo conhecidamente
desconhecido em outro ser. Ser, não ser o que achavas ser ao descobrir-se
entregue, sem forças, inerte. Um controle emocional descontrolado, teleguiado
por quem te controla consciente disso. Outro ser, um ser mágico em sutileza,
horripilante em frieza. Seu não ser dando-te vida, fazendo-te ser o que és, ser
de alguém.
Lá é belo, desconhecido, intrigante e envolvente. Sentes como se tivesses o que não podes até perceber não ter .
Vives um algo só seu que por vezes é
lindo e seu medo de perder o que não tem por maior que perder-se de si, então, perdes
a ti perdendo-se no outro, perdendo pra si.
Lua, estrelas, amanhecer, o despontar
o do sol, o cair da tarde e até o renascer não importam se a plácida luz viesse
hoje e dissesse, te amo, aqui estou. Está
não estando, abrindo concessões, as fechando numa promessa vã de volta . Nasces, morres,
suplica. Fazes o impossível em letras nunca lidas, palavras não ouvidas,
descasos acumulados.
Amas o céu na vã tentativa de aproximar-te das nuvens, desenhas a lua na esperança de ser estrela, caminhas atrás
na tentativa de estar ao lado, relutas contra o vívido não à espera de um sim.
Amas o sol, sentes a luz. Não sente que quem mais te sente , sente por não
sentires que estás o apagando? Dessa vez, Clarinha não chorou.
Helder Santos
27-06-2013
07:51 pm