terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

13


Você é diferente, representação do começo desmontando o que julgo conhecer. Planos mudaram com a percepção do brilho nos meus olhos avistando seus lábios. Assim seus olhos convergiam os meus enquanto ao longe tacava-me sua mão.

Quando o relógio bateu 6:30 ela estava cansada, sentia-se especialmente distante quando ainda sonolenta precisou acordar. Desligar-se ao doce prazer do sono encontrando a rotina igual ao novo-velho dia. O dia de hoje. Ter frio, o frio carente de uma gata. O cansaço solitário num ser arrojado e independente que hoje estava só, entregue a si mesmo como um copo vazio. Só, presente em si mesmo como uma folha em branco. Preenchida, submersa em ar rarefeito como se possuísse volume. Saudosista do que não viveu.

Patrícia sublinha no céu paisagens felizes, sonhos impossíveis, medos presentes e carinhos ausentes quando o especial “ser seu’ está distante. Teme a cor, o som os gesto que não gesticulam. O silêncio aterrador das aves numa terra sem aves. Patrícia e a solidão presente num amor que não vem. Não passava das 8, nada mudava a não ser o relógio a bater a mesma hora de ontem quando ela pensou em mim, num verso introvertido falando extrovertidamente ao nosso lado, numa palavra parando o mundo parábola no vértice desse coração.

Seu pensamento chegava em vibração e instinto carregando a chama ausente num homem cheio de amor. Conseguia captar o que sentia e precisava. Esse era o querer alguém característico de Patrícia, comedimento, sonho, silêncio e pensamento. Ela, o que sente e pensa, o que age e controla a controlar. A distante chama de paixão e sangue secular imprevisível desse sentimento infinito. Ávido, intrigante gostar. Se poucas mulheres poderiam ser , só ela sabia ser o que poucas mulheres saberiam ser para um homem. Patrícia é desejo, intensidade e fúria. Assim surgida num devaneio, assim colocando-se em gestos singulares de amor e medo, ela gritava em silêncio para aquele que sempre a amou se recolher-se.

Ao sentir o que ela emanava, ao imaginar que estivera aqui. O amor antes surreal - hoje possível- não me deixava pensar. Tomei em punho a primeira caneta e escrevi isto tentando dizer ainda te amar.

06:51 pm

Helder Santos

23-02-10

Quando um anjo cantou e dançou ( parte I)

Era um dia aleatório como são os dias de verão, um dia de calor insuportável. Para meu consolo existia cerveja, cerveja e vontade de nada. Passei alguns minutos do tempo que tive para não pensar em nada pensando em algo que libertasse meu corpo do mal estar causado pelo calor. Ascendi um cigarro, tomei o último gole da cerveja, levantei a cabeça. - Se tem algo poderia repetir diversas vezes era esse levantar de cabeça – Em meu rosto espantou-se a marca desajeitada de quem acaba de se apaixonar. É, paixão! O que ela tinha demais? Uma garota como tantas. Linda, loira, magra, sorridente que andava como se o mundo fosse feito tão e somente para ela. Não, não andava. Levitava, transpirava ao mundo um sentimento que outra mulher jamais conseguiria ou conseguirá. – Leitora, se por acaso fores loira, magra, linda e achar que pode conseguir, tente, duvido que consiga, ela sim se estiver lendo sabe que consegue, vocês, parem de ilusão, se a realidade dói é melhor enfrentá-la – Me deixar levar por esse sentimento era a pergunta viável considerando o looser¹ que vos fala. Se para mim paixão e realização amorosa não andavam juntas, deveria refutar toda e qualquer tentativa de conquistá-la. Teimoso que sou desconsiderei o possível insucesso trançando o plano de dessa vez não sofrer e rir. Claro, jamais alcançaria a potência do sorriso daquela que passara do outro lado da rua. Eu, o possuidor do sorriso mais sem-graça que se tem registro tendo por máxima conquista um sorriso de canto de boca da menina mais feia que se tem conhecimento – fazíamos 4ª série, ela tinha 9 anos e quarenta e cinco quilos de amargura - nada poderia fazer a não ser esperar e sorrir como sabia, sorrir de desajeito, sorrir para ela na esperança de chegar nela.

Outro dia não tão quente como aquele seria um dia gélido. Precisava do calor diário que só aquele sorriso poderia proporcionar. Descobrir em pouco tempo que algo deveria ser feito e bem feito, era o mesmo que descobrir não ter controle algum sobre a situação. Para mim nunca foi problema delegar a mulher. Que um amor recíproco me controlasse sobre o que deve ser feito, mas, na categoria de desconhecido, ela nada sabia, muito menos que faço parte de sua vida. Casualmente acabei enamorado de alguém desconhecedor da minha inteligência e virilidade, pior que isso, desconhecedora da minha existência. Era constante divagar naquele sorriso me esbaldado a espera da realização do sonho em ser feliz. E se tão loira quanto veio ela sumiu me restara lembrar. Lembrava alto e baixinho, olhava em volta sentido o perfume desconhecido, respirando o toque não dado. Sonhava com ela, e como uma criança calma nos braços da mãe , dormia, dormia acordado e dormindo. Dormir nos aproximava, acordar seria pesadelo real da existência irreal daquela mulher em minha vida. Quantos dias? Nem contava os dias ou sabia se era dia ou noite, se chovia ou fazia sol. O calor antes aterrador daria lugar ao calor de olhos agora ausentes ainda que cheios de esperança.

Fui ao mesmo bar, alcancei à mesma mesa, tomei a mesma cerveja. Cerveja e cigarros, mudos companheiros da visão celestial de outrora a acompanharam-me, mudos, porém mais intensos á nova visão apresentada. Como se Deus houvesse descido á terra e mandado arcanjos escoltando o anjo do dia dos meus sonhos, dessa vez algum demônio subiu e do inferno carregou nada menos que a escolta principal de anjos caídos trazendo ao lado deles a única mulher que não precisava encontrar naquele bar: minha ex-mulher. Quem já foi casado há de concordar, ex-mulher e ex-marido deveriam não existir, não que esteja propondo genocídio coletivo, sugiro um acordo: mudem de país, estado, galáxia! O importante é deixar que seus ex possam ao menos tomar uma cerveja em paz, terem um possível segundo encontro e que esse aconteça sem a infeliz presença dos olhos de quem antes amou, agora odeia.

Mesmo duvidando da feliz coincidência de um raio cair duas vezes no mesmo lugar, quer dizer, de um anjo descer duas vezes do mesmo céu. Continuei no bar fingindo a inexistência demoníaca da minha ex, esperando a aparição angelical da moça loira ainda sem nome. Imputei fé em paradoxos. Estabeleci relações positivas para o surgimento da ex-esposa, para o bem ou para o mal alguma coisa acontecerá naquele ambiente, ser negativo poderia trazer surpresas desagradáveis.

A terceira cerveja trouxe mais que alterar minha percepção sobre as coisas. A visão celestial de outrora confrontando a teoria de raios caírem duas vezes no mesmo lugar concretizou-se. Como nos sonhos que tive acordado ela apareceu mais linda que da última vez. Perfeitamente alinhada, surreal, divina e plena, desconcertou-me. Enquanto a olhava com cara de cachorrinho a procura do dono, ela caminhava pelo bar imponentemente fingindo não existir nada ali além de si mesma.

(continua)

04:40 pm

23-02-10

Helder Santos

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Música de fundo nos dias e madrugadas.


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“Dorme em paz, já é madrugada.

Não dê ouvidos aos ruídos, a essa falta de ar
Meu amor, não pense mais em nada
Feche
os olhos e as janelas
Deixe o sono te levar
Pelo escuro.”


Tocava alto madrugada adentro. Não sabia onde você estava. Pensava comigo alguma forma mágica que pudesse trazer-te sorridente ao reduto do nosso amor. Sonhos, paisagens irreais que deixaste aqui. Fantasias melodiosas em canções tristes que escuto sozinho.

Soluços ritmavam o que chamam de amor, o que chamo... saudade. Metáfora florescente nos que não sentem admirando-a nos outros; tempestade fugaz nos que sentem. Irreversivelmente sozinho, nem música, nem silêncio controlavam o impulso destrutivo de você ser quem é, de representar o cálice vazio na minha sede, o mar de ilusão nos meus sentimentos, a fúria corrosiva no meu pensar. Estávamos sós. Papel, caneta e o que julgo literatura: sua ausência mordaz em presença ausente, meu medo levando-me a palavras inteligíveis pairavam sob a casa num sentimento angustiante, barulhento silencioso de adeus. Tudo que devora, que seca, que surge sumindo antes de sermos. Então não. Sigo a messe voluntária. Alcanço o silêncio. O grito metonímico de ser seu. Sou seu! Nada mais que isso:

Tomas meu espírito, catalogas minhas crises. Consome minha humanidade. Endurece-me à vã expectativa de ser outro eu, o que sonho ser e não fui. O que desejo e não tenho. O que imaginei ser sem nunca ter sido. O que grita silenciando-me: sua ausência de nunca ter estado e ter ido. Sua presença em nunca estar e corroer-me a ideia de virdes que nada sou além daquele que te ama. Daquele que conta nos dedos o momento de ser seu que não vem. Me sinto só e sua ausência potencializa tal solidão afastando-me da única presença que tenho, o respirar o ar que é você, o perfume agora desconhecido, a vazão feminina distante por seres personificação do que amo noutro ser. Quando que, repetidamente a canção toca a frase levando-me a dormir.



“Formas voláteis do nosso amor
Todo esse ar pra respirar
Eu não vou conseguir
Faz muito tempo, eu sei
Eu errei mais uma vez
Quantas mentiras, quantas verdades
Me esqueci de te contar”



Helder santos

08:26 pm

21-02-10

Helder santos

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Soluços, incógnitas e doces sentimentos.


Saudade pode indicar ausência, desejo de recomeço, angústia de voltar e não ter o antes. Saudade é saudade. Complexamente, simplesmente saudade. Você se debruça, espreme-se para que seja só saudade, que não doa tanto.

Na falta do cheiro, perfume; na falta da brisa, ventania; na falta da palavra, grito; na falta do amor, mais saudade...e você segue amando. Ama o que vê, o que foi, o que pode ser. Não se ama ao amar saudade: o caracol invisível nas ondas preenchidas dum mar vazio.De um amor cheio de nada. Ama sozinho a imensidão das ondas, a solidão quando a noite cai, o silêncio, o passado, o futuro. Idolatra o que pode se apegar a ti ao estar apegado a ele. Medo! Névoa sedenta, chaga impoluta a cortar meus olhos, secar minha boca. Solidão, ausência presente do que foste ao deixar de ser. Não ser nada e tomar consciência disso, ser tudo e negar-se ser. O tudo, o nada. Relação antitética, o sempre igual querer sozinho. A esperada recíproca que não vem matando-me, bombeando teu ego em sangue.

Tu, só tu te salvará. Tu, só tu te guias? Tu, apenas eu. Mais uma vez você que me toma, vingativamente me controla e vilmente me prova. Tu, mente insana. Tu, ódio reverso e infinito. Eu. E agora você ri, ri de si mesmo e conta ao mundo o quanto é inútil rir dos outros, confessa que sempre haverá aquele, o outro, e ele rirá de ti. Dançará sobre tua sepultura, comerá sobre teus restos ao fingir pesar. Tu, saudade bandida. Tu dilacerante, dilaceraste. Tu também é saudade. E por falar em saudade, não te sentes? É só cansaço. É só saudade.

Helder Santos

02:57 am

05-02-10