Arrancando-me do peito expectativas infantis, Patrícia resolveu não falar palavras de amor, não falar nada. Muda, estática, olhou com olhos molhados, olhos sem expressão. Procurou no céu, no chão, ao redor, qualquer coisa que queimasse, congelasse, qualquer sensação nova. Patrícia é sensação, tudo que quer é experimentar, conhecer novos mundos, criar seu mundo novo todos os dias. Nem a crença silencioso-gritante no meu amor a faria estar ali sem buscar algo novo. Eu, monótono, estanque e indefeso nada poderia mudar daquele momento, nada poderia fazer sobre aquele tempo. Nós e o tempo aparentemente perdido nada podíamos fazer, pensar podíamos, então pensei que mesmo inversamente proporcionais mais uma vez sentíamos o mesmo, e, mesmo a esmo e impotentes uma ponta de sorriso ameaçou saltar meus lábios. Inertes em pensamento, ação e medo. Unidos unicamente pela monotonia da cidade, pela música silenciosa ouvida de forma plena, clara, quando em soluços iniciamos a cantarolar: “It's always best when the light is off It's always better on the outside (…)Climbing up the walls Climbing up the walls Climbing up the walls”. Tristes comungávamos infelicidade, angústia. O parque tantas vezes palco de momentos felizes, presenciava decadente a decadência do que pode ter nunca acontecido. Será que existe Patrícia? Ela não é um sonho, eu a criei ? Num devaneio essas questões viam a tona, nem pude resolver, no momento estava entre a dor de sentir e medo de não ter, de deixar de ter o que talvez nunca... Meu pensando dando lugar a voz de Patrícia rompendo o silêncio
- Penso que te amei, é, amei, se isso não resolve ao menos massageia seu ego. Não me importo com o meu, você não foi capaz de deixar-me uma vez que fosse insegura temerosa a te perder. É o risco de não te ter que me leva a ser como sou. Você , todo retilíneo, eu... Não há o que pedir, há muito a fazer e aqui estamos sob a luz da mesma cidade, respirando o mesmo ar católico e burocrata de um lugar que não gostamos, você e eu como dois patéticos perdedores, vamos, prefiro dormir até segunda.
- É sempre assim , não é ? Vai ser sempre assim, você, suas conjecturas, razões inabaláveis sobre o mundo, sobre mim, nós. Concordo quando reconhece sermos patéticos, de um lado eu entregue a quem desconheço, do outro você e suas verdade absolutas.
Na certeza adolescente de estar presenciando o fim da minha vida amorosa desatei a chorar, boys don’t cry? Por mais genial que seja a idéia, garotos choram é um choro velado, choro interno, sincero. Garotas podem até chorar, mas, desse dia em diante o choro feminino passou a ser mais bem analisado – nada contra vocês leitoras assíduas desse aspirante a escritor – mal sabia que aquele sorriso não era decifrável e que seu poder sobre mim teria voga permanente. Rachacei a dor e por instantes entreguei-me novamente a mim mesmo. Patrícia seguiu por um lado, ali fiquei.
Helder Santos
04:49 pm
23-07-2009