Algo levemente desconhecido bate a porta e, num súbito inesperado, luzes ascendem, chamas queimam, fogos são lançados. E agora, o que será de mim, o que será de nós? Parece inverno e tudo esquenta. Sua voz e seus olhos tocam uma música celeste. Tudo é lindamente atordoante sem definir o que é pior: se a força dos sonhos que tenho ou a inconcretude na realização deles. Divina música infernal ungindo de seus tenros lábios. Socorro! O que há em ti de tão poderoso a ponto de convencer-me, conduzindo-me ao inferno mental inesperado e infinito de seu toque que não sinto?
Numa manhã de terça, Patrícia bate a porta e, como de costume, traz consigo o lascivo toque de rosas pálidas de algum lugar que desconheço. Seu cheiro e seu rosto carregam conjunções carnais estranhamente sedutoras e , como de costume, atendo seu chamado como se fosse a única coisa possível. Sou previsível e nada repetirá sua aparição. Mesmo que cresçamos e adultos sejamos, ainda seremos nós em minha mente. Nela, a ultima imagem de seu toque fortalecesse no que anseio sem sentir, o sinto sem ver, desejo sem ter. Você e o aparecimento de tudo que esperastes após irdes.
As vezes, sinto-me idiota e sentindo mesmo, pareço inteligente. Inteligente por cultivar, só agora, o melhor que tive sem respeitar e , como em oração, clamar sua volta. Idiota por esperar seu melhor, agora. O agora não existe se não existe você e tudo que sou é seu espectro. Onde estás?
De repente vem a tona um sopro inusitado de amor próprio em mim fazendo-me por instantes lembrar que tenho uma vida. É, tenho uma vida e essa existe sem você. Hoje atenderei a porta e contemplarei o sol. Só por hoje esquecerei um dia que te fiz sofrer e terei um dia feliz. Hoje preciso abrir a porta e atender alguém chamada paixão. Patrícia se foi e em algum lugar no tempo canta músicas aterradoras para outro alguém. Estou pronto! Grito estar pronto mas, meu grito ecoa baixinho levando o hoje a ser ontem. Ontem lembrei de você. Hoje senti saudades.
Helder Santos
05:19 pm
08-04-2011
