Patrícia não ouve os sinos do passado. Além de insensível, a sinfonia melodiosa dos atos, antes terríveis, nada representam senão espectros de um ser desconhecido a ela. Sob essa égide, havia duas garotas, a que imagino e a real. Distintas distantes flores em jardim alado.
Sem toque, o passado hipertrofiado nutre os músculos assíduos desse Amor, um Amor real, plausível, táctil, o Amor palpável sem pele ou cheiro tecendo sulcos¹
na estrada, até pouco, transitada por nós. Sons inaudíveis, calor, suor. Pálpebras dilatadas, arranhões, gozo...passado lembrado, vivo e eternizado. Seu cheiro. O gosto alvo macio em seu sorriso. - “Daí-me outra cor que não seja a do teu olhar.” Supostas vãs tentavas noutros seres com seu nome. Inúteis viagens a terras onde não estivestes. Delirantes alucinações de seu rosto. Deduções alcoólicas sem supor a ressaca-drama ao despertar noutra cama sem ti. Constatação, me perdi.
Ó divinal ser em minha adolescência perdida, dai-me luz me guiando para seus braços. Ó torrente idealização delirante, vinde a mim trazendo-te, preenche em vida pulmões ar respirando-te, silencia o grito dor-latente na voz que anseio, mostra no senão o sim almejado e, cansado, acalenta em seus braços o traço abraço distante em lembrança coroando o céu em dança, seu “oi” em esperança, sua vida na minha. Por força das palavras, em sonho, patrícia corou.Aos olhos esperança, ao peito clamor. Com os pés no chão, Patrícia assiste, com ou sem asas, vôos “adolescentes-adultos” nessa estrada.
¹Rego aberto pelo arado ou pela agricultura.
Helder Santos
03:47 am
14-09-11